Quando se fala em desastres, muita gente pensa imediatamente em grandes tragédias como enchentes, incêndios ou pandemias. Mas há desastres que não aparecem no noticiário com a mesma urgência, embora afetem milhões todos os dias: a fome, o desemprego, o racismo ambiental, o abandono social. A Psicologia reconhece que tudo isso também é desastre — e nosso compromisso profissional começa muito antes do colapso aparecer.
Enquanto psicóloga e candidata a integrar o Conselho Regional de Psicologia, defendo uma atuação comprometida com os territórios e com os direitos humanos. A Psicologia não é só resposta emergencial: é presença ética e técnica na prevenção, na escuta qualificada e na reconstrução do que foi perdido — ou do que nunca foi garantido.
A Nota Técnica CFP nº 22/2024 reconhece formalmente o papel da Psicologia em três fases: preparação, resposta e reconstrução. Na preparação, psicólogas e psicólogos devem estar junto às políticas públicas, ajudando a planejar ações efetivas para proteger vidas. Na resposta, oferecemos acolhimento, orientação e cuidado psicológico imediato. E na reconstrução, permanecemos ao lado das comunidades, fortalecendo os serviços de saúde mental e contribuindo para a ressignificação coletiva do vivido.
Esse trabalho acontece em diversos espaços: abrigos, escolas, hospitais, unidades de saúde, CRAS, CREAS, Defesa Civil, ONGs. Sempre em rede — com outros profissionais, com lideranças comunitárias, com os serviços públicos. Afinal, o desastre raramente é súbito: ele é, muitas vezes, o agravamento de uma realidade que já era precária e excludente.
É por isso que, trazemos o compromisso de defender políticas públicas que fortaleçam essa Psicologia ampliada, comprometida com a prevenção, com o cuidado integral e com a reconstrução da dignidade. Não se trata apenas de reagir, mas de atuar com antecedência, com responsabilidade e com afeto.
A Psicologia, nesse campo, é cuidado, mas também é transformação. E ela só tem potência real quando atua em rede, com o território e com a comunidade.